*(Do livro Escravidão Tecnológica, de Ted Kaczynski,
2010.)
Eu
quero indicar aqui, em forma de sumário, os quatro pontos principais
que eu tentei tratar nos meus escritos.
1. O progressos tecnológico está nos levando para um desastre inevitável.
Pode
haver desastre físico (por exemplo, alguma forma de catástrofe
ambiental), ou pode haver desastre em termos de dignidade humana
(redução da raça humana para uma condição de degradação e
servidão). Mas desastre de um tipo ou outro irá certamente resultar
do progresso tecnológico contínuo.
Isto
não é uma opinião excêntrica. Entre aqueles assustados pelas
prováveis consequências do progresso tecnológico estão Bill Joy,
cujo artigo “Porque
o futuro não precisa de nós"
está famoso agora, Martin Rees, autor do livro Nosso
século final,
e Richard A. Posner, autor de Catástrofe:
Risco e Responsabilidade.
Nenhum destes três é por qualquer esforço de imaginação radical
ou predisposto a encontrar erros na estrutura existente da sociedade.
RIchard Posner é um juiz conservador da Corte de Apelações para o
Sétimo Circuito dos Estados Unidos. Bill Joy é um conhecido mago
de computador, e Martin Rees é o Astrônomo Real da Inglaterra.
Estes últimos dois homens, tendo dedicado suas vidas para a
tecnologia, dificilmente iriam ficar com medo da tecnologia sem terem
boas razões para isso.
Joy,
Rees, e Posner estão preocupados principalmente com o desastre
físico e com a possibilidade e de fato a probabilidade de que seres
humanos serão suplantados por máquinas. O desastre que o progresso
tecnológico implica para a dignidade humana tem sido discutidos por
homens como Jacques Ellul e Lewis Mumford, cujos livros são
largamente lidos e respeitados. Nenhum dos dois é considerado como à
margem ou mesmo perto disso.
2. Só um colapso da civilização tecnológica moderna poderá evitar o desastre.
É
claro, o colapso da civilização vai ele mesmo trazer desastres. Mas
quanto mais o sistema tecnoindustrial continuar a expandir, pior será
o eventual desastre. Um desastre menor agora irá evitar um maior
depois.
O
desenvolvimento do sistema tecnoindustrial não pode ser controlado,
moderado ou guiado, nem podem seus efeitos serem moderados em
qualquer grau substancial. Isto, novamente, não é uma opinião
excêntrica. Muitos escritores, começando por Karl Marx, tem notado
a fundamental importância da tecnologia em determinar o curso do
desenvolvimento da sociedade. Na realidade, eles tem reconhecido que
é a tecnologia que rege a sociedade, não o contrário. Ellul
especialmente tem enfatizado a autonomia da tecnologia, ou seja, o
fato de que a tecnologia moderna assumiu uma vida própria e não
está sujeita ao controle humano. Ellul, além disso, não foi o
primeiro a formular esta conclusão. Já em 1934 o pensador mexicano
Samuel Ramos afirmou claramente o princípio da autonomia
tecnológica, e esta compreensão foi esboçada já em 1860 por
Samuel Butler. Claro, ninguém questiona o óbvio fato que indivíduos
ou grupos humanos podem controlar a tecnologia no sentido de que em
um dado ponto no tempo eles podem decidir o que fazer com um item
particular da tecnologia. O que o princípio da autonomia da
tecnologia afirma é que o desenvolvimento global da tecnologia, e
suas consequências a longo prazo para a sociedade, não são
sujeitos ao controle humano. Disso, enquanto a tecnologia moderna
continuar a existir, há muito pouco que podemos fazer para moderar
os seus efeitos.
Um
corolário é que nada menos do que o colapso da sociedade
tecnológica pode evitar um desastre maior. Assim, se quisermos
defender nós próprios contra a tecnologia, a única ação que nós
podemos tomar que pode revelar-se eficaz é um esforço para acelerar
o colapso da sociedade tecnológica. Ainda que esta conclusão é uma
consequência óbvia do princípio da autonomia tecnológica, e
embora isto possivelmente está implícito em determinadas afirmações
de Ellul, eu não conheço nenhum autor convencionalmente publicado
que reconheceu explicitamente que nossa única saída é através do
colapso da sociedade tecnológica. Esta aparente cegueira para o
óbvio só pode ser explicada como o resultado de acanhamento.
Se
nós queremos precipitar o colapso da sociedade tecnológica, então
o nosso objetivo é um revolucionário sob qualquer definição
razoável do termo. Com o que estamos confrontados, portanto, é uma
necessidade por uma revolução intensa.
3.
A
esquerda política é a primeira linha de defesa da sociedade
tecnológica contra a revolução.
De fato, a esquerda hoje serve como um tipo de extintor de incêndio
que apaga e extingue qualquer movimento revolucionário nascente. O
que eu quero dizer com “a esquerda”? Se você acha que racismo,
sexismo, direitos dos homossexuais, direitos dos animais, direitos
dos indígenas, e “justiça social” em geral estão entre os
assuntos mais importantes que o mundo atualmente enfrenta, então
você é um esquerdista como eu uso este termo. Se você não gosta
da aplicação da palavra “esquerdista”, então você está livre
para designar as pessoas que eu estou me referindo por algum outro
termo. Mas, seja como você os chame, as pessoas que extinguem
movimentos revolucionários são as pessoas que são atraídas
indiscriminadamente por causas: racismo, sexismo, direitos dos
homossexuais, direitos dos animais, o meio ambiente, pobreza,
fábricas exploradoras, neocolonialismo… é tudo o mesmo para eles.
Estas pessoas constituem uma subcultura que tem sido rotulada “a
cultura adversária”. Sempre que um movimento de resistência
começa a emergir, estes esquerdistas (ou como você preferir
chamá-los) vem para cima dele como abelhas para o mel até que eles
sejam mais numerosos que os membros originais do movimento, assumem o
controle, e o tornam em apenas mais outra facção esquerdista. A
história do “Earth First!” fornece um elegante exemplo deste
processo.
4.
O
que é necessário é um novo movimento revolucionário.
É necessário um novo movimento revolucionário, dedicado à
eliminação do sistema tecnológico, que irá tomar medidas para
excluir todos os esquerdistas, assim como os diversos neuróticos,
preguiçosos, incompetentes, charlatões, e pessoas deficientes em
autocontrole que são atraídos para movimentos de resistência na
América hoje. Que forma um movimento revolucionário deve tomar está
aberta à discussão. O que está claro é que, para um começo,
pessoas que estão sérias sobre como lidar com o problema da
tecnologia devem estabelecer contato sistemático com outros e seu
senso de propósito comum; eles devem terminantemente/rigidamente
separar a si mesmos da “cultura adversária”; eles devem ser
orientados para a ação pratica, sem renunciar a priori as formas
mais extremas de ações; e eles devem tomar como seu objetivo nada
menos que a dissolução da civilização tecnológica.
Notas
1
– Wired Magazine, abril de 2000.
2
– Publicado por William Heinemann, 2003.
3
– Oxford University Press, 2004
4
– El perfil del hombre y la cultura en México, Décima Edição,
Espaca-Calpe Mexicana, Cidade do México, 1982 (originalmente
publicado em 1934), páginas 104-105.
5
– Ver Paul Hollander, The Survival of Adversary Culture
6
– O processo está habilmente documentado por Martha F. Lee, Earth
First!: Enviromental Apocalypse , Syracuse University Press, 1995.
Autor:
Ted Kaczynski