"Em época de eleições é sempre bom
lembrar o texto clássico de Elisee Reclus, escrito ao final do século
XIX mas VIVO, muito VIVO nos dias de hoje. Vamos fazer a DEMOCRACIA
DIRETA com autonomia e poder popular."
Fonte: Coletivo Alternativa Verde
Tradução de: Mario Bresighello
Por que os Anarquistas não votam?
TUDO o que pode ser dito a respeito do sufrágio pode ser resumido em uma frase:
Votar significa abrir mão do próprio poder.
Eleger um
senhor, ou muitos senhores, seja por longo ou curto prazo, significa
entregar a uma outra pessoa a própria liberdade.
Chamado
monarca absoluto, rei constitucional ou simplesmente primeiro ministro,
o candidato que levamos ao trono, ao gabinete ou ao parlamento sempre
será o nosso senhor. São pessoas que colocamos “acima” de todas as
leis, já que são elas que as fazem, cabendo-lhes, nesta condição, a
tarefa de verificar se estão sendo obedecidas.
Votar é uma idiotice.
É tão
tolo quanto acreditar que os homens comuns como nós, sejam capazes, de
uma hora para outra, num piscar de olhos, de adquirir todo o
conhecimento e a compreensão a respeito de tudo. E é exatamente isso
que acontece. As pessoas que elegemos são obrigadas a legislar a
respeito de tudo o que se passa na face da terra: como uma caixa de
fósforos deve ou não ser feita, ou mesmo se o país deve ou não
guerrear; como melhorar a agricultura, ou qual deve ser a melhor maneira
para matar alguns árabes ou negros. É muito provável que se acredite
que a inteligência destas pessoas cresça na mesma proporção em que
aumenta a variedade dos assuntos com os quais elas são obrigadas a
tratar.
Porém, a história e a experiência mostram-nos o contrário.
O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade.
Nas assembleias acaba sempre prevalecendo a vontade daqueles que estão, moral e intelectualmente, abaixo da média.
Votar significa formar traidores, fomentar o pior tipo de deslealdade.
Certamente os eleitores acreditam na honestidade dos candidatos e isto
perdura enquanto durar o fervor e a paixão pela disputa.
Todo dia
tem seu amanhã. Da mesma forma que as condições se modificam, o homem
também se modifica. Hoje seu candidato se curva à sua presença; amanhã
ele o esnoba. Aquele que vivia pedindo votos, transforma-se em seu
senhor.
Como pode
um trabalhador, que você colocou na classe dirigente, ser o mesmo que
era antes já que agora ele fala de igual para igual com os opressores?
Repare na subserviência tão evidente em cada um deles depois que
visitam um importante industrial, ou mesmo o Rei em sua antessala na
corte!
A
atmosfera do governo não é de harmonia, mas de corrupção. Se um de nós
for enviado para um lugar tão sujo, não será surpreendente regressarmos
em condições deploráveis.
Por isso, não abandone sua liberdade.
Não vote!
Em vez de
incumbir os outros pela defesa de seus próprios interesses, decida-se.
Em vez de tentar escolher mentores que guiem suas ações futuras, seja
seu próprio condutor. E faça isso agora! Homens convictos não esperam
muito por uma oportunidade.
Colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelas suas ações é covardia.
Não vote!
Elisee Reclus