Estratégia A
Envolver-se em ações diretas militantes contra a infraestrutura industrial, especialmente a infraestrutura energética.
Estratégia B
Ajudar e participar de lutas por justiça
social e ecológica em curso, promover a igualdade e atacar a exploração
realizada por aqueles que estão no poder.
Estratégia C
Defender a terra e evitar a expansão da
atividade industrial madeireira, de mineração, de construção, e assim
por diante, de modo que mais terra intacta e espécies permaneçam quando a
civilização entrar em colapso.
Estratégia D
Construir e mobilizar as organizações de
resistência que vão apoiar as atividades aboveground, incluindo
treinamento descentralizado, recrutamento, apoio logístico, e assim por
diante.
Estratégia E
Reconstruir a base de subsistência
sustentável para as sociedades humanas (incluindo policulturas perenes
para alimentação) e comunidades democráticas localizadas que defendem os
direitos humanos.
Ao descrever este cenário alternativo
futuro, devemos ser claros sobre algumas frases abreviadas como “ações
contra a infraestrutura industrial”. Nem toda infraestrutura é igual, e
nem todas as ações contra a infraestrutura são de igual prioridade,
eficácia ou aceitabilidade moral para os movimentos de resistência neste
cenário. Como Derrick Jensen escreveu em Endgame,
você não pode criar um argumento moral para explodir um hospital
infantil. Mas, por outro lado, você pode criar um argumento moral para
derrubar torres de telefonia celular. Algumas infraestruturas são fáceis
de atacar, algumas são difíceis e outras são ainda mais difíceis.
Sobre o mesmo tema, há muitos mecanismos
diferentes que podem conduzir a civilização a um colapso, e eles não são
todos iguais ou igualmente desejáveis. No cenário de Guerra Ecológica Decisiva,
a escolha por alguns mecanismos é intencionalmente priorizada e
aconselhada, enquanto outros são retardados ou reduzidos. Por exemplo, o
declínio de energia a partir da diminuição do consumo de combustíveis
fósseis é um mecanismo de colapso altamente benéfico para o planeta e
(especialmente em médio e longo prazo) para os seres humanos, e esse
mecanismo é priorizado. Por outro lado, o colapso ecológico por meio da
destruição de habitats e da biodiversidade é também um mecanismo de
colapso (embora leve mais tempo para afetar os seres humanos), e esse
tipo de colapso deve ser retardado ou impedido quando e onde for
possível.
Colapso, em termos gerais, é uma perda rápida de complexidade.[16]
É uma mudança em direção a estruturas-sociais – políticas, sociais,
econômicas – menores e mais descentralizadas, com menor estratificação
social, regulação, controle comportamental e arregimentação, e assim por
diante.[17] Os principais mecanismos de colapso incluem (não necessariamente nessa ordem):
- Queda energética resultante dos picos de extração de
combustíveis fósseis e uma crescente população industrializada
diminuindo a disponibilidade per capita.
- Colapso industrial com as grandes economias globais arruinadas
pelo aumento dos custos de transporte e de produção e pelo declínio
econômico.
- Colapso econômico resultante da incapacidade do capitalismo corporativo global de manter o crescimento e as operações básicas.
- As mudanças climáticas causando colapso ecológico, insuficiência agrícola, fome, refugiados, doenças e assim por diante.
- Colapso ecológico de muitos tipos diferentes conduzidos pela
extração de recursos, destruição de habitats, destruição da
biodiversidade e pelas mudanças climáticas.
- Doenças, incluindo epidemias e pandemias, causadas pelas
condições de vida de superpopulação e pobreza, juntamente com doenças
bacteriológicas cada vez mais resistentes aos antibióticos.
- Crises alimentares provocadas pelo deslocamento de agricultores
de subsistência e destruição de sistemas alimentares locais,
concorrência por grãos por parte das fazendas industriais e produtores
de biocombustíveis, pobreza e limites físicos para a produção de
alimentos por causa das secas e rebaixamento dos níveis de água.
- Rebaixamento dos níveis de água resultante do consumo acelerado
de fontes finitas de água, solo e petróleo, o que leva as fontes
acessíveis à rápida exaustão.
- Colapso político com grandes entidades políticas dividindo-se em
grupos menores, secessionistas rompendo com estados maiores, enquanto
alguns estados vão ir à falência ou simplesmente cair.
- Colapso social, com escassez de recursos e estouros de agitação
política, identificação com grupos artificiais menores (por vezes
baseados em classe, etnias ou afinidades regionais), muitas vezes com
concorrência entre estes grupos.
- Guerras e conflitos armados, especialmente guerras por recursos
em disputa pelo fornecimento de recursos finitos restantes e conflitos
internos entre milícias e facções rivais.
- Crime e exploração causados pela pobreza e desigualdade, especialmente em áreas urbanas congestionadas.
- Deslocamento de refugiados resultante de catástrofes
espontâneas, como terremotos e furacões, mas agravadas pela mudança
climática, escassez de alimentos, e assim por diante.
Neste cenário, cada aspecto negativo do
colapso da civilização tem uma tendência de reciprocidade que o
movimento de resistência incentiva. O colapso de grandes estruturas
políticas autoritárias viabiliza em contrapartida a emergência de
estruturas políticas participativas de pequena escala. O colapso do
capitalismo industrial global abre espaço para o surgimento de sistemas
locais de troca, cooperação e ajuda mútua. E assim por diante. De um
modo geral, neste futuro alternativo, um pequeno número de indivíduos
underground derruba grandes estruturas ruins, e um grande número de
indivíduos aboveground fazem florescer pequenas e boas novas estruturas.
Em seu livro O Colapso das Sociedades Complexas, Joseph Tainter
argumenta que um dos principais mecanismos de colapso tem a ver com a
complexidade social. Complexidade é um termo geral que inclui o número
de trabalhos diferentes ou papéis na sociedade (por exemplo, não apenas
curandeiros, mas epidemiologistas, cirurgiões de trauma,
gerontologistas, etc), o tamanho e a complexidade das estruturas
políticas (por exemplo, não apenas assembleias populares, mas
burocracias se espalhando por vastidões), o número e a complexidade dos
itens manufaturados e tecnologia (por exemplo, não apenas lanças, mas
muitos calibres diferentes e tipos de balas), e assim por diante.
Civilizações tendem a tentar usar complexidade para resolver os
problemas, e como resultado, sua complexidade aumenta com o tempo.
Mas a complexidade tem um custo. O declínio de uma civilização começa
quando os custos da complexidade começam a exceder os benefícios, em
outras palavras, quando o aumento da complexidade começa a oferecer
retornos decrescentes. Nesse ponto, as pessoas individuais, famílias,
comunidades, subunidades políticas e sociais têm um desincentivo para
participar dessa civilização. A complexidade continua aumentando, sim,
mas ela passa a ser cada vez mais cara. Eventualmente, os custos
crescentes forçam a civilização a colapsar, e as pessoas a retornarem
aorganizações políticas e grupos sociais menores e mais locais.
Sabotagem pode superar a produção…
Parte do trabalho do movimento de
resistência é aumentar o custo e diminuir os retornos da complexidade.
Isso não exige colapso instantâneo ou ações dramáticas globais. Mesmo
pequenas ações podem aumentar o custo da complexidade e acelerar as
partes boas do colapso enquanto ameniza as ruins.
Parte do argumento de Tainter é que a
sociedade moderna não entrará em colapso da mesma forma como as
sociedades antigas, porque a complexidade (através de, por exemplo,
agricultura em grande escala e extração de combustíveis fósseis)
tornou-se a base física da vida humana, em vez de um benefício
colateral. Muitas sociedades históricas colapsaram quando as pessoas
retornaram para as aldeias e para modos de vida tradicionais menos
complexos. Eles escolheram fazer isso. As pessoas modernas não vão fazer
isso, pelo menos não em grande escala, em parte porque as aldeias se
foram, e os modos de vida tradicionais já não são diretamente acessíveis
a eles. Isso significa que as pessoas na civilização moderna estão em
um dilema, e muitos continuarão a lutar pela civilização industrial,
mesmo quando sua continuação é, obviamente, contraproducente. Sob um
cenário de Guerra Ecológica Decisiva, ativistas
aboveground facilitam esse aspecto do colapso desenvolvendo alternativas
que aliviam a pressão e incentivam as pessoas a deixar o capitalismo
industrial por opção.
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